terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Bom dia, vida!

Estava deleitando-me e derretendo-me sobre velhas escritas e lembranças quando me vi atacada por uma certa saudade ... Aquela saudade invejosa que (quase) todo mundo tem de um passado, normalmente, distante ... Aquela mesma que vem acompanhada de uma voz (mentirosa) que "insiste em insistir" no quanto se era feliz, no quanto as coisas eram mais fáceis ...
Triste engodo este de criar momentos que não existiram e de ampliar os que vagam lentamente pela estrada do esquecimento na esperança de resgatar emoções que já não voltam e que, menos ainda, devem voltar!
O bom mesmo é relembrar as horas más, aquelas que nunca passavam, que se arrastavam enquanto eu puxava incansavelmente a corda do tempo - o fio da vida!
Ah , se meus tormentos tivessem durado mais, quanto mais eu teria aprendido ...
Não, não sou adepta do sofrimento, mas veja bem que delícia seria ter de volta cada corte vivo, cada tragédia, cada cena sufocante e cada gota de agonia da infância ... Se ainda houvesse a liberdade do choro inocente!
A casa, as fugas, a cachaça, a loucura, a invasão da intimidade ... tudo isso é um ciclo e eu já estou tão distante de tudo que essa melancolia saudosa persiste em me trazer com sua falsa leveza - sinto-a como uma brisa que ,antes, toca-me a face e logo vai criando forma e soprando-me aos ouvidos essa interminável dor de ser só, essa certeza do esquecimento! Já não é o vazio que incomoda, é esse assobiar cortante e sem fim ...
Emoções? Já não as sinto como antes e as que sinto não me surpreendem mais!
O medo, quando já não o tulero, simplesmente digo que vá, que volte amanhã talvez (O dia foi longo e preciso dormir!) ... Nos meus sonhos não há espaço para temor! Quero simplesmente sonhar com as lembranças ... sonhar, sonhar e sonhar , porque a essa altura meus olhos abertos significam pura e simplesmente a realidade!
O amor infinito do primeiro namorico agora me soa como um frágil mito grego - apaixonante, porém falso!
Não creio mais em doação sem interesse, o homem cujo bolso não determina o preço, os sentimentos encarregam-se!
Fique dor, não me deixe com essa humana sensação de que o futuro é o espelho da desgraça! Corte-me em mil pedaços e lance-os ao tempo para que eu absorva o conhecimento de todas as experiências (ou as experiências de todo conhecimento) e difunda-o!
Formaram-se do vento partículas de água e essas se derramaram de lugar nenhum na forma de chuva, cicatrizando-me e me fazendo esquecer, finalmente ...
E finalmente sou apenas mais um passado feliz ...
Mas o sofrimento está guardado ali, naquela gaveta esquecida entre tantas outras ... e um dia, eu sei, o vento o trará novamente - até que venha a chuva!
Já é dia ...


4 comentários:

Maria disse...

inteligente...obscuro...melancólico...
poético...


;)

Carlos Leen Santiago disse...

Muito tem se falado sobre nossa condiçao de querermos eternamente vencer a solidão e outras desgraças que tais.
Acho que escrever se nao resolve pelo menos nos ajuda a descobrir qual a parte que nos cabe nesse latifundio.
Ler textos como esse me faz cre cada vez mais nisso...

Unknown disse...

ô juliana :'/ chorei sua porrinha. por mais que a intenção não tenha sido essa, mas eu me vi no seu texto, eu me vi na sua saudade, minha garganta deu um nó.. chorei. me lembrei da felicidade nos tempos de quando eu descobri por meio da minha amiga poeta que "não se deve confidir melancolia profunda com melancia profunda"

te AMO

Unknown disse...

ratificando : melancolia profunda, com melancia na bunda.