segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Amor roxo

A princípio, éramos em preto e branco. Um clássico jogo de dados em que não se arrisca vitória ou derrota. Fomos nos colorindo a cada nova experiência, a cada descoberta. Os sabores verde-menta das salivas e o vermelho-carne dos sexos se confundiram. Foram tantos daltônicos pelo caminho que o amor, cansado, desbotou.

domingo, 11 de setembro de 2011

Um cuspe


Preciso, muito, falar de desprendimento. Pra ver se desprendo destas aflições últimas. Entender que estar só é condição obrigatória, sempre, por mais junto que se esteja. Invejo, assumidamente, as pessoas que sabem usar das palavras de maneira doce e sábia. Não me ensinaram a ser assim. As palavras que aprendi, por mais bonitas que sejam, saem feias e afiadas. Certo dia, a febre da sinceridade me fez assim, delirante, desmanchando em sincericídios.

Fico então obrigada a me desfazer... das coisas, das pessoas e das situações. Tudo por uma boca que sangra verdades que deveriam calar. Chega a amargar, a língua já adormecida não pesa o suficiente. Esta força que urge de minha garganta e faz minha voz saltar não nasceu pra discrição das verdades sussurradas. Pra ser exata, essas mentiras agradáveis rasgam-me os tímpanos. Vivo ermitão, meu corpo, meu mundo.

Se estivessem em paz consigo mesmo, a verdade não seria defeito. Mas funciona melhor assim - o EU e o EUTRO. Todo eu é podre, caga, cospe e trepa. Todo outro é imaculado e não usa absorvente porque não menstrua e só coça o saco pra lembrar que tem um. De novo. Melhor parar e ir passar o fio dental antes da carne enganchar entre os dentes. Eu não, a outra.



Foto: http://www.omelhordaweb.com.br/piadas/pagina_imagens.php?cdImagem=72

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Frigideira

À noite, morro
Pesadelos acorrentam-me à cama
E a (in)consciência do travesseiro
Pesa sobre a cabeça.
O sono inquieto,
perseguido por fantasmas,
escatologias baratas e
o corpo submerso em suor
Imploram o amanhecer,
a ressurreição.

Não tendo teu corpo,
concentro-me em secar
garrafas cheias de cachaça e mentiras,
carteiras cheias de dinheiro e cigarro,
e corpos cheios de gozo.
No hálito, álcool, nicotina e alvejante.
Sorrisos amarelos e balelas sussurradas.
Atenho-me a sugar saliva e sal.
Cansaço, desmaio.

Há noites, morro.
A lua mantém insípidos
despenteados, corpos nus.
Pernas se abrem em tua busca
Quando não a ti, a outros
Penetram onde não podem,
sempre quando não devem.
No amanhecer, a penumbra.
Olhos preguiçosos vislumbram em silêncio
A alma evaporando ao sol.