quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Ruptura

A mão deslizava pela cintura quente, quase nua
e o corpo pequenino cabia no abraço como que feitos por encomenda.
Ambos sabiam o perigo, era mesmo dessas paixões perigosas
Fingir frieza era impossível naquele vulcão.
Eram senhores do destino um do outro.
As bocas envolvidas pareciam arte, um frenesi.
No desatar dos nós, a boca desceu,
a saliva quase evaporava com a temperatura.
Os gemidos foram cessados, alguém chegara.
Interrompidos.

Versos de Hollanda - Cia de Teatro da UFMA


Tenho pensado tanto em ti
que hora dessas
saio de porta em porta,
perguntando por mim.

Foto: Ana P. Bertand

sábado, 16 de outubro de 2010

Natimorta

Um amigo sugeriu que escrevesse minha biografia. Confesso que pensei nisso várias vezes - escrever um livro. Não necessariamente sobre a minha vida, que nem acho que tenha tanto assim a acrescentar a alguém.
Mas assumo uma vontade, um gostinho egocêntrico de fazê-lo. O problema em escrever sobre sua própria vida é que ninguém é sozinho de verdade. Ermitões são lendas.
Pensei em fazer isso em um blog anônimo. Criei tudo novo, um e-mail, senhas improváveis. Seria bom que não fosse descoberta, apesar da minha forte crença na Teoria da Conspiração. Mas percebi como em poucas linhas já havia me entregue muito. E se rastreassem meu IP? Um perigo!
Por onde melhor seria começar a falar de minha vida? Pensei nisso tantas vezes que nem sei. Cheguei a uma conclusão que mesmo que não seja a mais correta é a escolhida: minha morte.
Não se trata de memórias póstumas mas de uma morte imaginária. Acho que todo mundo já se imaginou morto um dia e já pensou em como seria fechar todo um ciclo. Peço perdão pelo engano. Primeiro, um ciclo não fecha (ao menos não deveria), depois, a maioria realmente acredita que a vida seja um ciclo.
Para mim não é bem assim. Por mais triste e deprimente acho só que morremos e pronto, acabou. Eu sei, terrível. Enfim, se este fosse um blogue científico teria que me empenhar muito mais em buscar conceitos, teorias e grandes nomes para explicar várias questões como morte, crenças, perdão e qualquer coisa que tenha sido ou que ainda será citada nessas linhas, a começar pela própria amizade a que me referi na primeira frase.
Bom, amizade. É a primeira coisa que vizualizo quando penso em minha morte. Fico por horas vendo a face dos que me cercam e se dizem meus amigos e imaginando sua reação. Chego a chorar minha morte, emocionada. Imagino uma grande morte, teatral, dramática, que repercuta (o que no final nem é tanta coisa assim). Meus ouvidos parecem ouvir os gemidos, os ais, os discursos "improvisados". "Óh, ela era tão boa, tão inteligente, tão jovem...". Aposto que haverá quem cogite a possibilidade de eu ... Não, acho que não.
Será o que se passa na hora da morte? Acho que a morte é como a vida, cada um tem a sua, única, insubstituível. A morte até segue um padrão como a vida - a maioria é parecida e as que são diferentes viram notícia. Esses critérios de noticiabilidade de hoje em dia...É quase como acreditar que seria interessante escrever algo sobre mim. Eis minha biografia: Natimorta.



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Apo(ca)lí(p)tica

Acompanhem senhores: É política.
O pão vendido na padaria,
a moça que varre a calçada.
Esse sol que lhes queima a pele, é política!

E o que é então essa tal?
Essa que nos persegue em tudo, faminta, fingida.
Que política é essa, senhores, que fazeis ao virar as costas?
Ao ignorar os ais sussurrados nas calçadas?

Será fruto de nossa ignorância a nova política?
A politicagem religiosa. A política alienada.
Será fruto de nossa ignorância a velha política?
A politicagem oligárquica. O voto que vale o sonho.

Eis o fruto de nossa ignorância: A política DEFORMADA.
Não, não fechem os olhos, encarem a sua filha.
A criatura persegue seus criadores mesmo em seu sono.
Não se iludam, vocês não sonham com morte, não sonham
com dor, com tortura ou sangue. Sonham com política.

Ignorem, atem a política. Amarrem a cidadania.
Mas não fechem os olhos, ela vai lhes engolir.
Ela é beata, faminta, sedenta, maquiavélica.
Atriz, se veste com faces diversas, que passam despercebidas,
calando as vozes desesperadas por justiça.

Encarem sua cria, ela se tornou o avesso do que deveria.
A política apolítica.





Foto: Mosar Carvalho Costa

domingo, 10 de outubro de 2010

Pedaços

Estou perdida como há muito tempo não me sentia.
Eu, que mesmo triste sempre tive pulso,
sou refém dos sentimentos.
Nelson Rodrigues se enganou - O óbvio não é ululante...
Também me enganei - Não sou intocável.



Uma porcelana sem coração, uma miscelânea de hipocrisia.
Podre.