A rainha de copas ordenou: Cortem as cabeças!
E lá estavam elas, cabeças rolantes pelo castelo de pedrinhas dos Sonhos Perdidos.
Mas os olhos não se voltaram para a rainha, toda a elite do reino culpava os decapitadores pelo serviço de “limpeza”.
Afinal, só eram decapitadores aqueles considerados perigosos, malvados, que podiam tirar o capital e a paz da igreja, da mídia e das famílias de bem. Estavam cortando suas próprias cabeças.
O bobo da corte lia a tudo no jornal de época mas nem deu atenção, ansiava pelo folhetim que viria depois, esse sim, importantíssimo!
Aqueles decapitadores sujos e fedorentos estavam bem treinados para cumprir seu papel animalesco – por muito tempo andavam reclusos nas torres do castelo, jogados como ratos e com os ratos, comendo lavagem, apanhando dos guardas do castelo, os sempre tão viris e honrosos guardas.
Enquanto isso o rei estava sentado em seu trono em frente ao mar, lambuzando seu vasto bigode com a coxa roliça de um porco fétido que morrera decapitado. O sangue preto e podre do porco assassino (e assassinado) escorria e era lambido do canto da boca.
Até tinha umas moedas de ouro para que as terras do castelo de pedrinhas dos Sonhos Perdidos não se sujassem tanto. Afinal, as filhas e netas dos donos do Porto do Mar, localizado à beira do reino, não podiam sujar as barras de seus vestidos. Mas houve algum descaso qualquer, o rei tinha esse certo vício de roer ossos e comer vísceras. Era então um bom sinal, com todas aquelas moedas e todas aquelas cabeças era certo que à noite ia ter banquete, com direito a cabeças com maçãs na boca e vinho com gosto de sangue.
Pobres dos escravos, que perderam as mãos e línguas (no lugar das cabeças), e ainda eram obrigados a servir as iguarias.