quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Peça teatral faz sérias acusações à Vale no Maranhão e Pará

É em um cenário simples, composto por apenas seis cadeiras, seis guarda-chuvas e folhas secas espalhadas pelo chão que a peça “Que trem é esse?” vem sendo apresentada desde junho deste ano nos locais alcançados pelo trem da Vale, a segunda maior mineradora do planeta de acordo com seu site. O espetáculo, de aproximadamente 40 minutos, é uma iniciativa da campanha internacional “Justiça nos Trilhos”, lançada em 2007 pelos missionários Combonianos e apoiada por diversos grupos e organizações que apontam a Vale como uma empresa descompromissada e destruidora do meio-ambiente e das populações envolvidas no processo de mineração, plantação de eucalipto, produção de carvão e transporte ferroviário (de pessoas e minérios).


“Que trem é esse?” traz acusações gravíssimas à empresa, alegando que esta representa um risco à segurança, à qualidade de vida e à própria vida. Os seis personagens intercalam os papéis entre populares e funcionários da Vale, utilizando como artifício para chamar a atenção da platéia microfone, jograis, trocas de roupas em pleno cenário e coreografias embaladas por Marisa Monte, Zeca Baleiro e Raul Seixas. O trem, substituído pelo ritmado embalar dos guarda-chuvas pretos para em seis lugares, os mesmos para onde são levados os passageiros da ferrovia da Vale – Açailândia, Alto Alegre do Pindaré e Presa de Porco, no Maranhão e Parauapebas e Marabá, no Pará. Em cada parada, um novo problema apresentado:

-Açailândia hoje é cercada por plantações de eucalipto e já sente impactos ambientais na ausência de animais como o pássaro jacu e de árvores como a palmeira do açaí. Devido à poeira e fumaça causada pela cerca de 70 fornos da Vale, os moradores do Assentamento Califórnia, localizado a aproximadamente 800 metros das carvoarias, reclamam de problemas respiratórios, de pele e vista;


-Em Alto Alegre do Pindaré o caso é delicado. Os trilhos cortam o município ao meio e a população fica impedida de atravessar os trilhos enquanto o trem passa. Apressados para cumprir seus compromissos ou, muitas vezes, embriagados, os moradores passam por baixo do trem parado e muitas vezes são esmagados e arrastados a longas distâncias. “Em 2007 foram contabilizados 23 mortos, em 2008 foram registradas nove mortes e nada menos do que 2860 acidentes (www.justicanostrilhos.org/nota/590)”;


-“Presa de Porco nos deixou doentes”, afirma Xico Cruz, o diretor do espetáculo. Segundo Cruz, os porcos estão para o município como as vacas estão para a Índia e a proliferação de ratos e baratas é enorme, além da água estar poluída e imprópria para o consumo;


-No caso de Parauapebas, a peça aborda as promessas de emprego não cumpridas, afirmando que há um grande número de pessoas que se deslocam para o município acreditando em um emprego estável para o sustento da família, mas ficam de fora por não ter mão de obra qualificada. Desempregados e sem renda para ir para outros lugares, as famílias constroem casas na beira do rio, que ficam cerca de seis meses alagadas;


- Por último, é citada a cidade de Marabá, conhecida por sua mistura de brancos e índios. Segundo levantamento feito em 2009 pelo Ministério da Justiça e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Marabá é a segunda cidade mais violenta do Brasil. O espetáculo encena a sina de pessoas que, sem local para fixar moradia ocupam fazendas e são mortos por pistoleiros.


Xico Cruz coloca a dificuldade de se criar um espetáculo politicamente engajado “Há interferência da entidade na linguagem e nas características da peça, eu preparava o texto e eles (Combonianos) liam e aprovavam junto à comunidade”. Apresentada em Marabá e Buriti, os atores falam que “as pessoas querem que coloque mais coisas”. Vanusa Babaçu, ativista social, assistiu “Que trem é esse?” e lembrou a importância do povo fiscalizar essas indústrias que estão instaladas ou em processo de instalação em nossa região e falar sobre o que presencia. Com uma exposição fotográfica que também traz fragmentos do tema, Babaçu é firme - “o teatro é um espaço de denúncia que precisamos conquistar”.


*A exposição de Vanusa Babaçu está na Semana H de História, que vai até o dia 26 deste mês na Uema, campus de Imperatriz.


Publicado também em: www.imperatriznoticias.com.br


Atores com estudante da Comissão Organizadora da Semana "H"

Um comentário:

CAIRO MORAIS disse...

kd as fotos da peça ?... bem escrito esse post... abraço