sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Jardim das Rosas

Tem uns 17 anos. Eu, travessa, vivia dependurada e tinha uma enorme atração por situações de risco.(Que o diga o pé de goiaba que me levava diretamente para meu refúgio no telhado da casinha do quintal). Estou, um dia, enganchada pelas pernas (sim, de cabeça para baixo) em uma grade que ficava no teto  quando surge a Dona Cidinha (Senhora que trabalhou na nossa casa por mais de dez anos) e dá um grito daqueles:
- Menina! Tu quer me endoidar? Quer ir pro Jardim das Rosas?!
Como toda moleca peralta, já estava acostumada com aqueles chiliques. Naquela situação, no entanto, bateu uma ansiedade...Coisa de criança. Sumi por uns tempos pelo meu quarto e a Dona Cidinha ficou meio tranquila, meio desconfiada...
Quando o pai chegou para almoçar, eis que surjo pelas escadas im-pe-cá-vel! Estava no meu melhor vestido, num cheiro só e com o cabelo penteadíssimo. Até o calçado das ocasiões especiais havia colocado.
- Vamos pai?
- Pra onde, minha filha? (Ele já naquela respiração impaciente de quem não tem muito tempo e sequer lembrava de ter marcado algum compromisso comigo)
- Pro Jardim das Rosas!
O pai não falou absolutamente nada. Olhou pra Dona Cidinha com uma interrogação enorme no rosto. Ela também escolheu o silêncio e engoliu a saliva quase à seco. Glup.
Deve ser realmente angustiante ver um filho arrumado para a morte. Naquele dia não fui ao Jardim das Rosas. Fiquei muito triste e comportada pelo resto da tarde. Devia ser um lugar lindo! Fui algumas vezes bem depois, enterrar os meus e, em nenhuma dessas visitas, voltei para ver quem tinha deixado pela última vez.
Espero não ter tempo de me arrumar quando for a sorteada. Quando for minha hora de fazer moradia lá, no Jardim de cimento, entre as rosas de plástico.
 

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