segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A vassoura que não voa

A menina do andar de cima
rodopiava a varanda
com sua vassoura, dançarina.

De repente era vazia, a varanda.
De tão vazia, nem varanda tinha.
Era sem grade de proteção ao tédio,
a vida da menina.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Cimento

(...)
Lembrei do Movimento Estudantil e de outras lutas. De como as coisas têm sido vistas de forma diferente agora que está encerrando este ciclo de graduação. Me vejo a cada dia mais frágil e despreparada, uma sensação de incapacidade, de que poderia ter feito muito mais, lido muito mais, construído.
Vejo os que ficam, consciente de que as pessoas vão e a luta permanece. Mas muito me preocupa sua falta de sede ou, pior, sua falta de coragem de ir ao pote. Não deixa de ser um incentivo - somos poucos e sabemos pouco. Falta ainda a semente da curiosidade (aquela mesma do jornalista). Só saberão ao entender o quanto somos fortes juntos - fortes estudantes, militantes, comunicadores.
Haverá um dia, acredito, em que o Movimento Estudantil da UFMA estará edificado, acimentado e seguro.

Resumi, por preguiça.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Tijolos

Dormia quando fui interrompida...por um sonho.
Era um grupo "organizado" de pessoas que reivindicavam por uma causa que, ao meu ver, era interessante e justa mas, ao mesmo tempo, sua ação era impulsiva e ignorante, como se os outros envolvidos na situação não fossem relevantes. Indignada, fazia um discurso e perguntava - Qual a verdadeira causa de estarem aqui? Não vêem que há algo muito maior pelo que se lutar? Não percebem que estão fazendo da maneira errada, o quanto estão sendo egoístas?
O sonho desaquietou-me (Peço licença para usar este termo sem confirmá-lo. Luxo de quem trabalha com as palavras). Apesar de lutar contra muitas amarras da infância e adolescência, ainda me vejo muito ligada a algumas superstições como, por exemplo, os sonhos. Entendi como uma mensagem e não seria visto de outra forma. Até porque, se há algo que não está me deixando dormir, as coisas não podem estar bem.
Fiquei um tempo na cama, refletindo sobre várias situações a que aquilo remetia e gostaria de compartilhar os pensamentos...
Antes, pensei sobre meu posicionamento enquanto estudante de Comunicação. É sempre interessante rever algumas questões, até mesmo para que nos lembremos de nossos motivos e metas. Sempre gosto de me perguntar o motivo de ter escolhido este curso e o que ele me proporcionou e pode, ainda, proporcionar. Justifico (mesmo sem acreditar na necessidade disso) que a escolha se deu, antes de tudo, pela curiosidade. Fui dessas meninas muito "ativas" (leia-se atentadas), fazia mais perguntas constrangedoras que o comum e criava teorias loucas e desconcertantes. Dificilmente contentava com respostas simples, deixava a objetividade para as perguntas.
Não quero, jamais, perder essa capacidade de questionar e de não contentar. É essa a sina de um jornalista - nunca saciar, nunca estar respondido, sempre desconfiar. É isso que o faz levantar todos os dias e ir trabalhar - a necessidade de saber mais, ou ao menos algo, e compartilhar. Sim, passar adiante, INFORMAR. Percebi o quanto a comunicação é desapegada (Lembrei de Alda agora, que se não rir lendo isso, dirá que estou fazendo pouco caso) - Sei que muitos não têm cumprido essa missão mas, se analisarmos bem, o que mais deveria fazer um jornalista, a não ser adquirir conhecimento e difundi-lo? Desapegar-se dele? Tarefa difícil em tempos onde o saber é trancafiado nas mentes como o dinheiro é trancado nos cofres.
Talvez tenha algum sentido mas, provavelmente, é uma tentativa desesperada de justificar o posicionamento de muito colegas de profissão (certo, ainda não me formei...) que, depois de provarem a viciante sensação do saber, têm a guardado e convertido em poder. Tive, por pouco tempo, certo alívio. Questionei meu posicionamento enquanto informadora (não confundir com informante) e estive bem.
Mas ainda faltava algo... E o sonho? E aquelas outras pessoas que estava lá, quem eram? Liguei muito a uma situação que está sendo vívida (ou revivida)...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Do que fica, teus cheiros
Que me anulam em essência
São fragrâncias tão tuas
que, atrevida, as roubo
de tal forma que vejo
em teus cheiros, teus gostos
Pele-sal, olhos com cheiros de cores
Disponíveis pra poucos
E por hora, em segredo
Os confundo, cheiros outros
Teus lábios, olfato salivam
Os perfumes se prendem em teus peitos
Iludida, me afogo em tuas juntas
E ar, nado em tuas almas
Teus suores, mãos, tuas entranhas
Puxo a respiração, nunca mais esquecê-los

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A quem você serve?

“A ideologia do acadêmico é não ter nenhuma ideologia, faz fé de apolítico, isto é, serve à política do poder.”
A universidade tem nos preparado pura e unicamente para o mercado de trabalho, é fato. Mais fatídico ainda é o papel definido de figuras intermediárias que a maioria dos “diplomados” terá nessa estrutura. É pregada a ideia de que o espaço acadêmico é neutro – o local do saber científico. Mais parece uma continuação do nível de ensino anterior. O que já é uma falha por si só. Construímos em nossa mente a figura de um estudante de ensinos fundamental e médio parado, encostado – broco.
O acadêmico absorve o que lhe é passado (nem se pode dizer ensinado) – não pesquisa, não procura e não pergunta. E a chave de toda esta montagem do profissional não pensante ou do pseudocidadão é a aplicação de exames, provas e testes que avaliam seu “conhecimento”. Então, o negócio é engolir livros e palavras mastigadas e cuspidas por professores que, em sua maioria, já não tiveram o trabalho de mastigá-las, sem que nada seja questionado.
O próprio professor é vítima do modelo de universidade – todo o tempo, é submetido a avaliações que vão lhe render cargos e títulos: publicações, comportamento, projetos, etc. Ficam então docentes e discentes reféns de uma imagem que os permitirá estar ou não inseridos na sociedade como pessoas de bem, que “andam na linha” – Seres acéfalos, mudos.
Não é necessário reinventar a roda, mas é hora de assumir que a universidade tem exercido cada vez menos o papel de laboratório – espaço de pesquisa, descoberta, criação. A aplicação do conhecimento em prol da sociedade é quase nula. Na febre por títulos, os outros são balela – É urgente adquirir o mestrado em eumismo e o doutorado em Alter ego.
Para se ter uma noção da estrutura antidemocrática do meio acadêmico, basta ver quem o frequenta. A maioria, filhos da classe média e alta que continuam propagando a noção do consumismo a qualquer custo. O que não percebem é que defendem o autoconsumo.
Fica assim então, a ideologia dominante (daqueles bons e velhos dominadores – Estado, Igreja e classe A) é reproduzida por professores acuados e intimidados, enquanto estudantes são treinados como cãezinhos. Estudante bom é inativo, servil, dócil. Somente se tiverem um bom comportamento, terão lugar no mercado de trabalho, serão indicados – Premiados!
Com uma noção “sem noção” de que o diploma garante um status de conhecimento inatingível, não enxergam quantos diplomas têm sido arremessados pelas universidades particulares. O dinheiro na conta delas e o diploma na parede deles. Começa-se a fazer qualquer curso, sem afinidade, sem preparo – serão profissionais frustrados, cidadãos castrados.
Quem pára e questiona quais são as graduações que temos aqui em Imperatriz? São para quê? Para quem? Elas correspondem à nossa realidade? Vejam os novos cursos da UFMA – Ciências da Natureza e Ciências Humanas em 3 anos! Quem são os professores que estamos formando? Quais os resultados que o REUNI já trouxe para a universidade?
Abram os olhos! Estamos cumprindo tarefas, discutindo como executá-las e construindo sem ao menos saber a quê levarão, quem serão os beneficiados e os prejudicados por elas!

"O pensamento está fundamentalmente ligado à ação. Haja como um homem pensante e pense como um homem de ação!" ¹
¹ Frases de Maurício Tragtenberg
Baseado no texto "A delinquência Acadêmica", de Tragtenberg
Ôpa..de novo e sempre o abandono!
Dias corridos...Tenho atualizado o blog da Semana do Calouro e a inspiração não veio em dobro.
Conheçam: http://secadaufma.blogspot.com
Vou postar um texto que fiz pra lá.
cheiro

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Por que lutam? Perguntam aqueles que nunca acenderam a luz.
Por que lutam? Perguntam pálpebras fechadas de olhos que nunca se abriram.
Lutamos porque estamos vivos, porque não estamos sós!
Lutamos porque acreditamos que não existe eu sem que exista NÓS!
"Faz escuro mas a gente canta!"
(Dando uma de pueteira no Cobrecos desse ano)



*Escrevi aqui pra não esquecer pq perdi meu bloquinho de eternas anotações do Congresso. Tenso.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Noturno

Paixão, um conjunto de sentidos aflorados, refinados.
Quando se entende o gostar como algo maior, o desejo se contraria.
Aos olhos do mundo, teus critérios são poucos ou nenhum.
Aos teus olhos, é o ápice do respeito à diferença.
Aprendeste, enfim, que toda busca tem resposta.
Haverá sempre algo a descobrir -
Primeiro descobre o olhar, ainda preconceituoso.
Depois ouves e julga a voz, o tom e, por fim, o conteúdo e a ideia.
É a burocracia do contato.
Se a aparência e o estilo convencem em conjunto com voz e assunto...
Toca. Vê se a pele é macia, sente.
Depois cheira. Gostou do perfume?
Sente os cabelos, afoga teu nariz e puxa o ar.
Tua boca saliva. Beija.
Já não há sentido.
Não sabes se é o gosto, o hálito ou a língua.
Apalpa, amassa, descobre.
Contempla enquanto caem as roupas
ou arranca-as com as mãos, unhas ou dentes.
Morde, lambe, chupa. A pele é salgada e o cheiro, doce.
Pupilas passeiam buscando novos sinais,
disputam curvas com as mãos.
Nos ouvidos, gemidos, palavras, gritos.
Já não só as mãos sentem, são pés que beliscam,
panturrilhas que passeiam, coxas que apertam.
Os seios apontam e são empurrados numa disputa
cadenciada - coração X pulmão.
Os corpos rodopiam, deitados - de lado, de quatro.
Quantos corpos são?
Os sexos encaixam, explodem.
Músculos puxam e dedos se fecham em contração.
Pêlos arrepiados e pele trêmula.
Se abraçam, se fundem.
Amanhã, bom dia.


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

No grito, a (há) esperança

Canta meu povo, que quero ouvir teu tom

Abraça-me o corpo e balança no gingado dos teus rios

GRITA Maranhão , que o grito liberta

Diz pro mundo o quanto sofres em mãos incertas

Chora pelos homens mortos por covardes grileiros na busca por terra

Sofre pelo verde destruído pelas grandes madeireiras

Se envergonhe pelas mulheres - esposas, mães, filhas - bocas caladas, sem rosto ou nome

Mas GRITA que é pro mundo ver que tem gente e que tem vez

Cora teu rosto com o vermelho-sangue do Pe. Josimo

Pinta tua pele com o marrom-Babaçu

E homenageia as mulheres e crianças que madrugam

Pra produzir o azeite, o bolo, o sabonete, o artesanato...

Dancem seus bois Catirinas mas cuidado com a Ana

Aqui no Maranhão ninguém canta e ninguém pinta

Em terra de escravidão não tem dinheiro pra artista

Mas GRITA, grita que é o grito que vai vencer os leões do palácio

Bacuri, Cacau, Jansen, esgotos a céu aberto, esgotos-rio, esgotos-mar

Em Estado de alerta, o preconceito reina e a coroa é um bigode

O preconceito de negros e índios e pobres por negros, índios e pobres

Esqueça outra espécie qualquer

Vamos aplaudir o eucalipto que vai manter nossos cupins

Vamos arrancar tudo pra plantar capim, que morram de fome as muitas famílias

Que explodam de gordos os gados de poucos

Aqui, Suzano Vale Estreito e que se danem as Suzanas e seus filhos, que pouco valem

Mas GRITA meu povo! GRITA antes que o trem leve até tua voz!

Ainda há tempo, antes que a fumaça das carvoarias e das cerâmicas invada tua garganta.

Caro Maranhão, onde a roupa, a comida e a educação são tão caros!

Levanta e luta, pois meu grito só é um sussurro mas o grito do povo é ordem de mudança!

Foto: divagandosobreavida.wordpress.com


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Comunica dor


Há um fator que sempre incomodou muito na Comunicação Social - o comunicador mal comunicado.
Aquele que escreve textos, produz vídeos, programas de rádio e/ou qualquer outra mídia mas não tem quase nenhum (ou nenhum mesmo) conhecimento sobre o assunto abordado.
Pior ainda quando não está inserido em sua própria realidade. Aí vem a questão máxima e até óbvia (mas "jornalista bom é jornalista "burro"...") - COMO ALGUÉM QUE SE PRESTA AO SERVIÇO DE COMUNICAR A SOCIEDADE OU A UM DETERMINADO GRUPO NÃO ESTÁ INFORMADO SOBRE SUA PRÓPRIA REALIDADE?
É gritante a falta de interesse dos estudantes da área, por exemplo. Quantos, dos que estão na academia, questionam e/ou conhecem a mídia mercadológica, a mídia sindical e/ou a mídia popular das quais farão parte? É o conhecimento limitado, entre quatro paredes de uma universidade sucateada pelo governo, pelo ensino privado e, principalmente, pela falta de estudo das pessoas que deveriam lutar pela manutenção do espaço e da essência do lugar.
No Movimento Estudantil desde os tempos remotos (por vezes, mais atuante, por outras, menos), reconheço que seja suspeita a minha insistência, mas a angústia maior não é a discordância, é a não existência da opinião estudada, questionada, conversada ... da opinião. Não queremos pessoas que sejam por nós, queremos pessoas que sejam conosco! Se a vida tem sentido, que seja esse - o desatar de nós e o atar de laços pelo caminho. Conhecimento é liberdade!