sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Noturno

Paixão, um conjunto de sentidos aflorados, refinados.
Quando se entende o gostar como algo maior, o desejo se contraria.
Aos olhos do mundo, teus critérios são poucos ou nenhum.
Aos teus olhos, é o ápice do respeito à diferença.
Aprendeste, enfim, que toda busca tem resposta.
Haverá sempre algo a descobrir -
Primeiro descobre o olhar, ainda preconceituoso.
Depois ouves e julga a voz, o tom e, por fim, o conteúdo e a ideia.
É a burocracia do contato.
Se a aparência e o estilo convencem em conjunto com voz e assunto...
Toca. Vê se a pele é macia, sente.
Depois cheira. Gostou do perfume?
Sente os cabelos, afoga teu nariz e puxa o ar.
Tua boca saliva. Beija.
Já não há sentido.
Não sabes se é o gosto, o hálito ou a língua.
Apalpa, amassa, descobre.
Contempla enquanto caem as roupas
ou arranca-as com as mãos, unhas ou dentes.
Morde, lambe, chupa. A pele é salgada e o cheiro, doce.
Pupilas passeiam buscando novos sinais,
disputam curvas com as mãos.
Nos ouvidos, gemidos, palavras, gritos.
Já não só as mãos sentem, são pés que beliscam,
panturrilhas que passeiam, coxas que apertam.
Os seios apontam e são empurrados numa disputa
cadenciada - coração X pulmão.
Os corpos rodopiam, deitados - de lado, de quatro.
Quantos corpos são?
Os sexos encaixam, explodem.
Músculos puxam e dedos se fecham em contração.
Pêlos arrepiados e pele trêmula.
Se abraçam, se fundem.
Amanhã, bom dia.


Um comentário:

Help. disse...

Descrição perfeita do ato que desatina qualquer um!