As vozes soavam longe, os tons baixos eram fruto de meu sono pesado e insistente.
Logo reconheci Adriano, meu irmão de dez anos e Flávia, a empregada, conversando sobre internet.
F-Não sei como tu aguenta passar o dia nesse computador, não sei mexer nisso não.
A-Pois é facinho. Tu devia comprar um computador pra ti. Tem tudo na internet!
Nesse momento Adriano começou a explicar mil coisas em linguagem desconhecida pela mulher a quem se dirigia. Falava de jogos, e-mail, sites de relacionamento. Ela, por muito tempo, permaneceu calada. Talvez atenta, talvez ignorasse a empolgação da criança.
A fala que Flávia pronunciu em seguida tirou minha dúvida:
F-Adriano, tu sabe aquela personagem da novela das oito que tá doente? Pois é, ela tá doente de verdade óh...
Adriano ignorou o comentário desesperado de quem queria dialogar mas não cabia no assunto: Pois é, compra um computador e o serviço da internet pra tu ver como é bom!
F-Mas tem que pagar internet todo mês né?
A-É, e daí?
Ela disfarçou, pegou o material de limpeza e dirigiu-se a meu quarto onde eu já levantava. Ainda ouvi seu sussurro: - Só se for em 2013!
*Flávia é negra, pobre e não tem acesso a internet (mas não perde uma novela das 8h00).
*Adriano é branco, estuda nas melhores escolas e sempre teve internet em casa (mas nunca vi ele a usando para outra coisa senão jogos e filmes violentos).
*O que é mais importante para bater o bolo: A massa ou a batedeira?
Bendita inclusão digital!
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