domingo, 19 de setembro de 2010

No tom

Nesse domingo improdutivo, quase mórbido
meus pensamentos se traem em comparações desconexas
no absurdo imaginário que me permite ouvir Lobão
sonhando com Cartola a dedilhar o violão de madeira
("Ah essas cordas de aço, este minúsculo braço do violão os dedos meus acariciam...")

Lembro-te sempre assim, como a música
Que enquanto ilude a abraçar-me e beijar-me a face
Não permite nem ao menos que eu, fanática e apaixonada, a toque
São carícias fingidas que só conhece quem bem ouve e nada canta.
("Ah, este bojo perfeito que trago junto ao meu peito. Só você violão compreende porque perdi toda alegria...")

A melodia é então platônica. Por mais que perto, distante
Ainda assim, compreende-me, passeia-me, como o nosso amor
Com o tempo vi que há mais que letra, som ou qualquer outra coisa
Há na música alma. Ela transpira, vadia, nossos sentimentos
("E no entanto meu Pinho, pode crer, eu adivinho, aquela mulher até hoje está nos esperando...")

Me esforço por compreendê-la, é preciso boa voz e bons ouvidos
Um sem o outro é vazio, é qualquer som que não encanta, que não preenche]
Dedilha-me como a teu violão para que nosso amor não desafine nem envelheça]
Cante nossos beijos o melhor que puderes que o ouvirei atenta
Até que sejamos um só suor, uma só história, um só ritmo.
("Solte o teu tom da madeira, eu, você e a companheira. A madrugada iremos pra casa, cantando.")

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