quinta-feira, 28 de abril de 2011

Eu, sujeito oculto

São estes, enfim, meus companheiros eternos - o papel e a caneta. Quando já não tenho ou não sei o que escrever, começo a riscar coisas desconexas (nomes, linhas, estrelas, universos inteiros) como se aqueles traços matassem esse desejo de extrapolar. Fica então essa herança mesquinha de uma multidão de cadernos rabiscados e folhas estragadas. Uma afronta ao Meio Ambiente - seja pelas árvores cortadas (como estas da Beira Rio, que me dão encosto neste momento), seja pela poluição das ruas sujas por picotes envergonhados que escapam das mãos dos garis. Uma afronta aos intelectuais, aos inteligentes, que vez ou outra são submetidos às minhas palavras imorais, sempre tão temperadas com exageros, pecados e obscenidades. Imundas.



Escrevo porque sou refém da textura da folha e dos traços das linhas. Ao jogar nela (a folha) meus segredos tolos, desmanchada, minha cor se faz tinta. É, de certo, sem explicação. Falo de tudo mas, para muitos que lêem (ou que não lêem), sou nada. Mimada, tento de alguma maneira provar com minhas orações, mal formadas, que posso ser sujeito de minhas escolhas, menos subordinada a esse mundo de aparências das palavras faladas, das verdades caladas.





http://www.ricardoalamino.com




(Este texto foi escrito a mão em um desvaneio de fim de tarde...)

Nenhum comentário: